o escritor empunha sempre uma ponta. a pena. a lança. o lançamento.
este último lhe rouba temporariamente todo o resto. ata-lhe. retalha.
resta a carcaça e o cheiro de alho.
o pau d´alho é uma árvore que poda a si própria.
enorme. impotente. e ao menor vento. em movimento.
se desfaz de vastos galhos. estatelados no chão. assim, sem dó.
estraçalhados. espalha a cena da devastação. da automutilação.
os olhos fogem à cena. as mãos fogem da pena. sem pena.
ao menor sinal de vento.
o silêncio irrompe das gralhas. minhas falhas agora à frente das grades.
a chuva escorre pelas calhas. em pingos. a trilha sonora. sempre ritmada.
então. eu penso enquanto durmo:
- o tempo girando em móbiles no quarto do bebê.
eu e minha lança na primeira linha da infantaria. meu cavalo galante.
os píncaros e os castelos de cartas. são tão semelhantes.
lançar e estourar com o ponta o balão. e esvaziar-se de si. só. palavras.
o pau d´alho dança na noite da tempestade. de novo. de velho.
vai quebrar no chão seu espelho. espero. porque eu também tenho esses lados avessos.
eu também não quero. às vezes. meus pedaços. então me desfaço.
e que outra melhor ocasião. para me reinventar. senão debaixo dos raios.
nas tempestades?
nos lançamentos?
O ministério dos escritores adverte: esse texto pode conter doses de ansiedade pelo lançamento do Escamas de Mil Peixes no próximo sábado (17hs) na Livraria Patuscada.
Isso é também um convite!
O livro pode ser adquirido neste link » aqui « ou diretamente na livraria.
Assinarei os exemplares no lançamento!
Espero vocês.
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Maitê Pereira Lamesa é natural de Jaú/SP, mãe, advogada (UEL), mestra em Relações Internacionais (Programa San Tiago Dantas - UNESP-UNICAMP-PUC/SP). Atualmente reside em São Paulo, alternado com períodos na zona rural do interior de São Paulo. Começou a publicar seus escritos em outubro de 2022, desde então teve alguns poemas publicados em revistas digitais e selecionados para antologias futuras. O livro Escamas de Mil Peixes é seu livro de estreia, publicado pela Patuá.