As cartas são sempre para o futuro, por isso ninguém macula a magia das cartas. Sim, hoje escrevemos “cartas” e em segundos elas chegam ao destino. Por isso, elas não chegam a ser cartas. A premissa da carta é a mesma da vida: que há o tempo, e que pode não haver mais.
Por isso, ouso escrever esta carta para 29 de fevereiro de 2028. E gosto da ideia de que escrevo para um destinatário distinto: eu mesma, em 2028. Sim, você mesma. Será que se lembrará desse texto de hoje?
Escrevo esta carta apenas para imaginar, imaginar olhos correndo o texto, hipnotizado pelo ritual das palavras: da esquerda para a direita, de cima para baixo, um quebra-cabeça de quantas letras forem necessárias para explicar que os sonhos não devem se realizar, devem se reinventar, é preciso que sejam vividos, eu, que sou de tantos sonhos, você, de quem sei de apenas algumas certezas, e que uma delas é que também é de tantos sonhos.
Abramos o livro de futuro, fruturos, frutos? Quem tem semente na mão, quer ver floresta. Você tem uma mata diante dos olhos? Que poderia ser veríssima, que poderia ter nome de livros, os próximos? de filhos, os próximos? Toda e cada árvore foi sonho-semente de alguém, a vida fica mais mágica quando destrinchamos coisas e conceitos. Vida poesia.
Estou dentro desse dia, que é um portal, porque é um presente de quatro anos, estou a alguns minutos de buscar Teresa. De me buscar, também, pois ela chegará e nós brincaremos de tudo aquilo que eu brincava. Me lembrarei, daqui instantes, de alguma nova canção. Você se lembra? Quão difícil e doce era fazer crescer uma criança? Talvez você me diga melhor do que eu te digo agora.
Você que é eu, sabendo e lembrando de tudo que lembro, mais tudo aquilo que viver ou morrer em quatro anos. Você que é mais que eu. Você que é um exercício meu. Quando e se houver você. A essa altura Teresa já estará escrevendo, formulando frases como eu, seguindo os ritos das palavras para aprender o mistério de seus ritmos.
Sei que vou piscar, e serei você. Desde que saí do casulo, a vida passa na velocidade de estrelas cadentes. Eu achava que voava, mas tudo não passava de uma esteira rolante para pretensas borboletas. Hoje, realmente voo, e a vida parece ficar, passando.
Já deixei de ser jovem, a última gota foi quando fiz pelo último dias coisas só para mim. Quando a vida se tornou mais difícil, e mais cheia. Quando a vida se tornou realizar menos sonhos, ou realizá-los mais lentamente, mas mais bonita. Não sei se esta carta é mesmo para você, às vezes parece ser para a Teresa. Porque não há outro sentido na vida. O sentido até você, não há outro.
Com carinho,
De: Maitê de 29/02/2024.
Te vejo em quinze.
Conhece o site future.me? Eles enviam cartas nas datas que você deseja... muito legal e útil em casos como este! Hehe
Lindo, Maitê! Me deu vontade de escrever uma também <3